sexta-feira, 11 de julho de 2008

Roubo de computadores

Bom, este foi o primeiro
texto que eu fiz para a disciplina
de redação 4, que tive com Sílvio Melatti.
Eu não tinha pauta e
pensei, pensei, pensei...
até que não tive mais tempo e entreguei isso aí.
Assim como minha
outra matéria publicada aqui,
percebe-se que minha apuração é
lixo, mas compartilhar o texto é parte do aprendizado.


"Por que não roubar?"



Onze de fevereiro. Primeiro dia de aula na Associação Educacional Luterana de Santa Catarina (Bom Jesus/Ielusc). O funcionário Eduardo Baú tranca o laboratório 3, como faz todas as noites, e vai para casa. Na manhã seguinte, o computador da mesa do professor não estava mais lá – fora furtado. Mais de mil pessoas diferentes circulam pelo campi todos os dias. Qualquer uma poderia ter cometido o crime, mas apenas um o fez. A peça entra para a série de equipamentos eletrônicos afanados sistematicamente desde 2006.
A pena por furto – de acordo com o artigo 155 do código penal – é reclusão de um a quatro anos, além de multa. Se o objeto for de pequeno valor, ocorre diminuição do castigo. Porém, computadores não são considerados peças de valor pífio.
O castigo é um dos meios encontrados pela sociedade para punir e coibir a apropriação de objeto alheio. Contudo, praticar um furto em determinadas ocasiões é tão fácil e lucrativo que a punição nem chega a ser cogitada pelo criminoso. Na Biblioteca Castro Alves (da instituição), por exemplo, sair com livros sem registrá-los não demanda esforço algum. Em certos casos acontece sem intenção. “Várias vezes eu só lembrei de estar em posse do livro quando já estava fora da biblioteca”, conta o professor de redação Sílvio Melatti.
A equipe desta reportagem fez o teste. Entrou na biblioteca, deixou a mochila no guarda-volumes e levou consigo um caderno. Pegou um livro (O Visconde Partido ao meio, de Ítalo Calvino), colocou-o sobre o caderno e saiu. Mais simples que roubar doce de criança, pois a criança chora. A estudante do 5° período Carolina Wanzuita corrobora: “Se eu quisesse, seria muito fácil, já que às vezes a gente tem que esperar alguém para nos atender. É nessa hora que dá pra sair com o livro”.
A estudante Ana Carolina da Luz atenta para outro tipo de furto possível: o roubo de coisas pessoais. “Eu, por exemplo, sempre deixo minha mala na sala no intervalo, não é difícil alguém entrar e mexer nela, pegar o celular ou alguma outra coisa”, argumenta. No entanto, reclamações sobre isso não existem. Ou não acontece a contravenção ou o lesado não se importa.
Mas se é tão fácil roubar, se as oportunidades para cometer o crime surgem todos os dias, porque a maioria das pessoas não roubam?
De acordo com Maria Aparecida Perez Luzzi, psicologa e chefe do departamento de apoio ao estudante do Ielusc, as pessoas não roubam porque incorporaram valores de honestidade e respeito pelo próximo. Mas ela afirma que o principal motivo é a punição.
“Para viver em sociedade, os homens criaram regras. Quem não obedece as regras é castigado. A igreja, quando fala de céu e inferno, está ameaçando o homem”, ilustra. A psicologa fundamenta a maneira como o homem é submetido a regras: “Na infância, a criança é punida de várias formas. Pode ser através de castigo físico, privação da liberdade, mas, principalmente, o que realmente funciona é a privação afetiva. Quando cresce, o homem já não precisa mais do pai e da mãe, mas precisa dos colegas, da namorada, do emprego, enfim, precisa ser aceito”.
Para os alunos Leonel Camasão, 7° período, e Francine Hellmann, do 5°, a culpa é do sistema. “Se não houvesse propriedade privada, não haveria roubo”, afirma Camasão. Já para Francine, só não há mais roubos porque existe cuidado e apreço pelo bem coletivo. “A biblioteca é um caso”, exemplifica, “eu me sentiria muito mal adquirindo algo que é de todos para mim”.
Indagados sobre o motivo pelo qual não roubam, a maioria dos estudantes concorda: porque é errado. “Nós fomos adestrados para não fazer isso”, explica Francine. Ou “Porque a minha moral não deixa”, explica Ana Carolina da Luz, do 5ª fase.
De acordo com o filósofo Immanuel Kant, a moral é a imposição de normas e deveres a si mesmo.(Quem diz isso sobre Kant é socióloga Marilena Chauí). O que Ana Carolina afirma, portanto, é que ela estabeleceu regras de conduta e ato de se apropriar de um objeto alheio, inflige suas regras.
“Eu não roubo porque não preciso”. É dessa forma que uma estudante do primeiro semestre responde a questão-título. Ela retorna a um ponto suscitado pela psicologa Maria Luzzi: “Até que ponto roubar é errado? Um pai que pega uma galinha para dar de comer à família é imoral? Ou um jovem que furta para conseguir alimentar o vício em drogas é criminoso? E quem afana um cinzeiro na balada?”
Para o filósofo Voltaire, a moral é uma questão relativa: “Para que uma sociedade subsista, é preciso que haja leis (...), a maioria dessas leis parecem arbitrárias, dependem dos interesses, das paixões, das opiniões dos que a inventaram e da natureza do clima onde os homens se reuniram em sociedade” Um exemplo é a lenda de Robin Hood, que tirava dos ricos para dar aos pobres, e por isso era um herói.
Roubando ou não, “todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei”, garante a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

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