sábado, 12 de julho de 2008

Alvair Alves Ferreira: 14 anos “bandeirando”

Jean Carlos Kienietzsche

Rio Negrinho – Ao contrário do que algumas pessoas podem pensar Alvair Alves Ferreira (53 anos) não é ninguém famoso, nunca trabalhou como auxiliar de arbitragem e sequer conheceu de perto a mais famosa bandeirinha do Brasil, Ana Paula de Oliveira. Muito pelo contrário, Ferreira não é desse tipo de bandeirinha, mas daquele que tem a difícil missão de controlar o trânsito nas obras pelas rodovias federais de todo o país. Munido do tradicional traje laranja, chapéu e a bandeira vermelha em punho, é ele quem pára o trânsito quando as obras numa determinada rodovia exigem o trânsito em meia pista.
Trabalho fácil? Não é do que se pode chamar o serviço de Alvair. Seja sob sol a pique ou chuva no peito, o bandeirinha tem de continuar em seu posto, caso as obras ocorram. Para Alvair, um dos integrantes do grupo que trabalhou na BR 280 na última semana, esse trabalho começou há 14 anos. De operador de máquinas numa empresa de móveis, seguiu para a empreiteira Mafrense. Logo que entrou, num dos primeiros trabalhos, assim como ele, o bandeirinha na ocasião também era novo. Era um dia de chuva e o bandeirinha largou o posto, restando ao encarregado deixar Alvair no comando do controle de tráfego. De lá para cá, são 168 meses de muito trabalho e com apenas uma batida registrada do seu lado da pista.
Depois da única colisão do seu lado de bandeiragem, o trabalhador tomou mais cuidado e nunca mais aconteceu algo parecido. Ele conta que hoje em dia está tudo muito mais fácil com os rádios ou walk tolkies para comunicação entre os dois bandeirinhas que ficam nas pontas da parte da rodovia em obras. Houve tempos em que o bandeirinha entregava a bandeira para um motorista, o qual se comprometia a devolvê-la ao passar pelo trabalhador no ponto de parada de trânsito.
Numa ocasião, Alvair entregou a bandeira para o motorista de um caminhão da empresa Perdigão, isso numa terça-feira, mas o motorista não devolveu o tão importante objeto. Na sexta-feira seguinte, o condutor de um veículo jogou uma bandeirinha para Alvair e ele liberou a fila, tamanha a confusão armada quando os veículos se encontraram frente à frente. Acidentes não foram registrados naquele dia, mas a bronca do encarregado sobrou para o lado de Alvair. Depois de pensar por um instante, ele lembrou que só poderia ter sido o motorista da Perdigão. “É muita responsabilidade ficar na bandeiragem, se alguém fura o bloqueio e acontece alguma merda lá no meio sobra pra gente”, comenta.
Amizades e complicações
Dias antes de trabalharem na BR 280, a equipe estava na BR 116, em Mafra. Lá estava Alvair fazendo seu trabalho normalmente quando o motorista de um caminhão parou o veículo e ficou reclamando, pois estava com pressa e xingou o bandeirinha que retrucou com o mesmo palavrão. Irritado, o caminhoneiro desceu do veículo e foi de punho cerrado para cima do trabalhador da Mafrense, o qual se defendeu a pontapés. Logo os companheiros de trabalho chegaram para acudi-lo, enquanto o caminhoneiro retornava para a carreta que dirigia e ali ficou parado por cerca de duas horas. Vingança de Alvair? Nada. Quando o caminhoneiro desligou o caminhão, uma pane mecânica deixou o veículo parado, sem sequer dar sinal de funcionamento. “Foi bem feito”, disse outro funcionário que presenciou a cena, mas preferiu não se identificar por ser um “simples rasteleiro”, como ele próprio colocou.
O “vovô” da equipe conta ainda ter várias vantagens na sua função. Uma delas são as amizades criadas. “Numa semana você fica conhecendo metade da cidade”, brinca. Apesar de preferir permanecer no posto, ao lado da bandeira, atende quando é chamado por algum motorista, seja para prestar alguma informação sobre as obras, trajetos, quilometragem restante para se chegar a determinado destino, ou, simplesmente, jogar conversa fora. Mas ele não se engana, sabe que um bom papo, às vezes, pode atrapalhar o trabalho. “Já aconteceu de estar conversando com alguém e o outro bandeirinha avisar da passagem do último carro para eu liberar aqui e esse último passar e eu não lembrar. Daí tem que perguntar se ele já mandou o último e ouvir: ‘Esse já deve estar em Mafra agora’”, relata.
Mesmo assim, gosta de fazer amizades, até porque sempre acaba banhando uma fruta ou algo assim. E foi dessa maneira que conheceu na manhã da última sexta-feira os motociclistas do Moto Clube Irados do Asfalto, de Ponta Grossa/ PR. Laroca, Sérgio, Panzarini e Pupo tinham como destino o quênion de Itambézinho, no rio Grande do Sul.
Salário
Mesmo com as dificuldades de se trabalhar sob sol ou chuva, seja dia útil ou final de semana, Alvair garante valer a pena, mas que o bandeirinha tem de ter paciência, ser bastante calmo e passar por um treinamento. O próprio encarregado da obra, de nome Gilmar, garantiu que, se não tiver vocação para a coisa, “o cara fica um ou dois dias e pede a conta”.
Além do salário, os trabalhadores ganham almoço pago pela empresa junto do restaurante mais próximo às obras, uma cesta básica de R$ 140,00 todo mês e insalubridade. A segurança também é valorizada pela Mafrense que cede óculos de sol, protetor solar, protetor auricular e máscara para quem trabalha mais perto do piche e produtos químicos, como o bombeiro, cargo atribuído ao funcionário que joga óleo no rolo pneu. Essa operação evita do piche ficar grudado na máquina.
Ainda sobre o salário, Alvair completa: “Um servente tira de R$ 900,00 a R$ 1,2 mil”. A equipe composta pelo bandeirinha tem na sua formação mais três rasteleiros, um operador de acabadora, um operador de rolo chapa, um operador de rolo pneu, o encarregado, um bombeiro e outros três bandeirinhas, além de Alvair. Para cada cargo, um salário diferente. As obras terminam no trecho da BR 280 que corta Rio Negrinho, mas o trabalho de Alvair e seus companheiros continua por outras rodovias federais, em outros municípios e ele continua parando o trânsito com seu tradicional traje laranja, chapéu, pois não pode usar óculos de sol devido um problema de visão, o corpo rechonchudo em seu cerca de 1,70m de altura, rosto redondo, cabelos brancos e barba por fazer. Tudo para chegar em casa, no município de Mafra e rever a esposa trazendo o merecido salário e o suor de mais um dia de trabalho.

Um comentário:

Anônimo disse...

Saudações aos terráqueos!

Até nosso tosco poema a quatro mãos recebeu comentários e o texto do presidente ainda não os tem?
Fique pois este primeiro, que é excelente o perfil.

Inda inté!